CAP XV
Rebelião
contra a desigualdade de direitos na França
Em 27 de outubro de 2006, dois
adolescentes franceses, filhos de imigrantes, morreram em circunstâncias que
ainda não foram esclarecidas. Diz-se que eles fugiam da polícia e acabaram em
um beco sem saída, no final do qual existia uma subestação de eletricidade.
Eles foram eletrocutados. Um terceiro rapaz sobreviveu, mas com ferimentos
graves. O rumor de que a polícia havia levado os dois à morte rapidamente se
espalhou. Desde então, ocorreram distúrbios nas ruas todas as noites. Os
manifestantes eram filhos de imigrantes da África do norte e subsaariana.
A situação piorou quando o
então ministro do Interior, Nicolas Sarkozy (eleito presidente francês em 2007)
chamou as gangues de jovens de “escória” e “gentinha”, afirmando que deviam ser
enfrentadas com severidade. Durante doze noites consecutivas, recipientes de
lixo e veículos foram queimados no departamento de Seine-Saint-Denis. Noite
após noite, bandos de adolescentes percorreram os bairros atirando coquetéis
Molotov em lojas e veículos – 250 numa noite, 315 na outra, 500 na seguinte.
As divisões na sociedade
francesa hoje percorrem linhas étnicas e religiosas, e também refletem profundas
diferenças culturais. O ideal da República Francesa – a nação como uma
comunidade de cidadãos que desfrutam direitos iguais, independentemente de suas
origens étnicas ou crenças religiosas - está dando lugar a uma coexistência
volátil entre comunidades que querem manter sua identidade e viver de acordo
com as próprias regras.
A escola não consegue reduzir
as desigualdades. As discriminações no que diz respeito ao acesso a moradia ou
ao emprego são consideráveis. Os que se revoltam perguntam: de que adianta a
educação quando não há empregos? E declaram “Nós queremos ser filhos da
república de maneira plena e completa. O que nós não queremos é ser excluídos de
maneira plena e completa. Nós queremos ser reconhecidos”.
A rebelião daqueles jovens na
França foi dirigida contra qualquer coisa que lembrasse mesmo remotamente a
autoridade do Estado. Eles estavam além da razão e ninguém – nem seus pais, nem
os professores, muito menos as autoridades - conseguia alcançá-los.
Os protestos de 2006 podem
lembrar os de estudantes de 1968, mas dessa vez os manifestantes não eram os estudantes
universitários de vanguarda e seus líderes não eram intelectuais de esquerda;
eram filhos de imigrantes que acreditaram que pudessem ser cidadão iguais aos outros
franceses.
1- As ações praticadas em 2006
pelos jovens filhos, de imigrantes na França tiveram conteúdo reivindicatório ou foram apenas uma
manifestação de inconformismo com a situação de exclusão e de descrença nas
instituições francesas?
2- Se a rebelião tinha um
conteúdo reivindicatório, qual era?
3- Qual é a atual configuração da
sociedade francesa, em relação às etnias que a formam? Dê exemplos.
4- Ações rebeldes como as
descritas no texto podem contribuir para o avanço da luta pelo direito à
igualdade numa sociedade como a francesa? Por quê?
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